quinta-feira, 8 de junho de 2017

Seleções Cartas de Amor - Fred Jorge - Carta 108

Meu inesquecível amor!
            Você devolveu todas as minhas cartas de amor! E uma fotografia amarelada, desbotada pelo tempo cruel que passa indiferente aos sonhos de felicidade. Eu as reli uma a uma. E senti que não havia falsidade. Naquelas frases que minha lama ditou, tudo era sincero. Percebi que eram fragmentos do meu coração, querida. Devolver velhas cartas não é devolver tranquilidade, alegria ou sonho. Numa carta de amor não existem palavras e sim retalhos de alma, de emoção e de desejo. Você que as leu, talvez com indiferença, jamais poderá imaginar com que emoção foram escritas. Jamais poderá imaginar como eu as realizei, trazendo o coração repleto de sonho e poesia.
            No entanto, você não soube compreender. Não soube permitir que nossas vidas ficassem juntas. E deu ao nosso romance um epílogo banal. Um rompimento e a devolução de cartas de amor. A fotografia também está novamente em minhas mãos. Eu a olho e sorrio amargamente. Agora estamos longe um do outro, já não sou o mesmo que sorri naquele retrato desbotado, que guarda uma juventude eterna. Venha me ver, querida. E compreenderá. Compreenderá como o tempo passa depressa para quem ama. Compreenderá como a vida não tem sentido para os corações solitários. E verá que sou um novo homem, abatido, indiferente, e não aquele jovial e alegre que tanto gostava de você. Sei que você devia guardar o retrato e as velhas cartas. Não são minhas e nem foram escritas por este solitário, foram escritas por esse jovem que sorri na fotografia, tirada num passado feliz. E as cartas foram escritas pela minha alma, meu amor.

            Fred Jorge

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