(Carta 49)
Meu inesquecível amor!
Ele arrumou na grande mala todos os seus agasalhos. Apanhou os seus capotes de pesada lã, suas meias grossas, suas luvas de couro e malha, seus suéteres coloridos, seus chapéus pesados... E, com tudo isso sobre os ombros partiu – partiu pela estrada, olhando para trás de vez em quando. Seus olhos cinzentos viam as flores que surgiam atrás, no caminho que ele palmilhava tristemente, e havia um brilho mau nesse olhar, um brilho de vingança; ele parecia dizer: “No próximo ano, eu estarei de volta! No próximo ano, eu estarei aqui com todos os meus rigores!”
Indiferente às ameaças, ela chegou. Chegou e foi arrumando tudo a seu gosto. Começou pelos jardins: encheu-os de flores; abriu seus melhores frascos de perfume e embalsamou os ares; despertou os pássaros sonolentos e fez que cantassem. Tocou os corações entorpecidos e despertou dentro deles esses dois garotos travessos, que fazem a gente cantar: o meu amor e o sonho. E nem sequer deu um aceno a quem partia; olhou apenas com indiferença, e viu que o inverno caminhava com todos os seus rigores e agasalhos, perdendo-se no caminho do Nada...
E setembro, sorrindo, fez moradia da terra. Enfeitou tudo, porque estava esperando a Primavera!...
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