Pássaros. Inúmeros pássaros negros voam ao longe. Uns voam em bandos, com suas imensas asas estendidas. Outros voam sozinhos. Voam em círculos, em espiral, para cima e para baixo, em uma sincronia perfeita. Nem batem suas asas, simplesmente permanecem com elas abertas, pois o vento se encarrega de conduzi-los pelo céu imenso.
Essas aves têm um vôo majestoso, belo, altivo. Uns voam tão longe, acima das mais altas nuvens, outras, no entanto, voam tão baixo que é possível ver a cor de seus olhos, negros como as penas que revestem seus corpos. A cor negra de suas penas é como a mais densa das noites. O seu canto não é apreciado por ninguém. Nunca ouvi alguém dizer que já tenha escutado algum som dessas aves. Não possuem o canto poético do bem-te-vi, nem a singeleza de um beija-flor, e muito menos o porte imponente de uma águia. Essa espécie é singular, parece-me que não se misturam com outras aves. Quando estão lá no alto, bem longe do solo, com sua visão aguçada e seu olfato apurado descobrem suas refeições prediletas.
Sua carne não é apreciada por ninguém, nem seus ovos são cobiçados. Nunca as vi presas em gaiolas, e ninguém as contrabandeiam, e não se fazem arapucas para apanhá-las. Nunca se dão elogios a elas, nem a elas se fazem poesias. Há até os que as atribuem um mau agouro.
Sua função na natureza é de uma importância incomum, sua extinção seria uma catástrofe de proporção global. O Criador sabia o que estava fazendo quando a criou.
Nem dos desenhos animados escapam, pois sempre são retratadas como alguém de mau caráter, trapaceiro, desonesto, larápio.
Também nunca vi alguém com um olhar perdido em direção ao céu a contemplar extasiado o seu vôo majestoso e belo. Talvez só eu.
Ah! A qual pássaro me refiro? Não é o falcão, com certeza, nem a águia, ou o corvo. É o urubu.
by Douglas Diniz
by Douglas Diniz
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