domingo, 31 de outubro de 2010

SÉRIE: Seleções Carta de Amor - de Fred Jorge (Carta 51)





Meu inesquecível amor!
            Inicia-se, bonito, o ruidoso mês de junho, com a beleza selvagem das festas simples, cheias de encanto e de harmonia. Junho das fogueiras, dos balões que sobem coloridos para o céu, e que voltam feito cinzas – balões que sobem, desafiando a cortina de garoa deste céu sempre frio, sempre úmido e sempre bonito...
            Isso me faz lembrar, querida, aquele junho maravilhoso que passamos juntos – e nossos corações tinham a beleza simples e encantadora das comemorações juninas. Tudo era tão calmo!... Eu tomava suas mãos entre as minhas e deixava que o calor de sua pele penetrasse todo meu ser. Seus dedos longos eram como pétalas de um lírio místico, que envolviam meus dedos...
            Agora estou sozinho, querida. E estou recordando – recordando suas mãos, seus cabelos, seus olhos, que tinham aquele brilho intenso ao pé da fogueira...
            Se você voltar, meu amor, outra vez minha alma cantará. E, dentro de minha alma, haverá uma festa sonhadora para receber você, meu inesquecível amor!

PARA QUE SERVE UM AMIGO?


Para tanta coisa, não é?         
Para instalar o XP no computador e não cobrar nada, mesmo perdendo horas e horas a fio!
Para trazer muamba do Paraguai e quase ser preso! Para emprestar o carro e recebê-lo de volta com multa e 21 pontos na carteira.
Para rachar a gasolina, emprestar a prancha, recomendar um CD, dar carona para festa,
passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra.
Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito.
A amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu.
Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises e choro, experiências.
Racha a culpa, racha segredos.
Um amigo não empresta apenas a prancha.
Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta. Um amigo não recomenda apenas um CD. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.
Um amigo não dá carona apenas para festa, te leva para o mundo dele e topa conhecer o seu. Um amigo não passa apenas cola... Passa contigo um aperto, passa junto o réveillon.
Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado. Segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.
Duas dúzias de amigos assim, talvez, ninguém tenha, mas se tiver um, amém! 
Obrigado por tua amizade, ela é muito importante para mim!

Texto recebido por e-mail. Desconheço o autor deste texto.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

MEDO DO AMOR - de Martha Medeiros

Medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que enfrentar: medo da violência, medo da inadimplência, e a não menos temida solidão, que é o que nos faz buscar relacionamentos. Mas absurdo ou não, o medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente sabe por quê.
            O amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, acaba. Rasga a gente por dentro, faz um corte profundo que vai do peito até a virilha, o amor se encerra bruscamente porque de repente uma terceira pessoa surgiu ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração, sei lá, vá saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável. Mas o amor termina, mal-agradecido, termina, e termina só de um lado, nunca se encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do outro, e vai um pouco de dor pra cada canto. Dói em quem tomou a iniciativa de romper, porque romper não é fácil, quebrar rotinas é sempre traumático. Além do amor existe a amizade que permanece e a presença com que se acostuma, romper um amor não é bobagem, é fato de grande responsabilidade, é uma ferida que se abre no corpo do outro, no afeto do outro, e em si próprio, ainda que com menos gravidade.
            E ter o amor rejeitado, nem se fala, é fratura exposta, definhamos em público, encolhemos a alma, quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido, esse assalto em que nos roubaram tudo, o amor e o que vem com ele, confiança e estabilidade. Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro do carro.
            Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos.
            Que corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado, amamos outra vez e todas as vezes que o amor nos chama, fingindo um pouco de resistência mas sabendo que para sempre é impossível recusá-lo.

VIDA - de Augusto Branco

Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,

já me decepcionei com pessoas
que eu nunca pensei que iriam me decepcionar,
mas também já decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,

já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
e amigos que eu nunca mais vi.

Amei e fui amado,

mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,

já vivi de amor e fiz juras eternas,
e quebrei a cara muitas vezes!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,

já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi!

E ainda vivo!
Não passo pela vida.
E você também não deveria passar!

Viva!


Bom mesmo é ir à luta com determinação,

abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é "muito" para ser insignificante.

TER OU NÃO TER NAMORADO - Artur da Távola


Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil. Mas namorado, mesmo, é muito difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
            Quem não tem namorado é quem não tem amor é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
            Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade.
            Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar. Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário. Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
            Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d’água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro. Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.
            Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
            Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança.
            De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
            Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. ENLOU-CRESÇA.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

ETERNAS POESIAS - E Por Isso Estou Aqui, uma composição e interpretação de Roberto Carlos

Série: Seleções Cartas de Amor, de Fred Jorge (Carta 50)



Meu inesquecível amor!
            No momento em que escrevo esta, olho pela janela e vejo a multidão alucinada gritando doida na rua. É como se eu estivesse vivendo dentro de um inferno terrível. No meio da multidão, reconheço os pavorosos monstros que tentam invadir meu quarto, e tomar minha alma: são o esquecimento, o tédio, a amargura, a dor e a angústia...
            Tudo não passa de um doido delírio. Tudo não passa de uma grande alucinação dos meus sentidos. Em vão tento readquirir a calma. Agora já é tudo silêncio, porque, em meio à multidão lá fora, predomina a figura alva da saudade. Ela vem e me diz mansamente que sou amado e que não fui esquecido, que, muito longe, alguém pensa em mim.
            Sinto-me terrivelmente só agora, e meus dedos nervosos mal podem escrever as palavras que penso.
            Quero dizer a você que a amo, que a quero só para mim, que você é parte integral do meu viver; que preciso de você, como preciso do ar que respiro; que preciso de você como a noite precisa de luar; que preciso de você, porque só a saudade não basta – quero também sua presença linda em minha vida, querida!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

ETERNAS POESIAS - Outra Vez, uma composição de Isolda, interpretado por Roberto Carlos

Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços
O que eu nunca esqueci
Você foi, dos amores que eu tive
O mais complicado e o mais simples pra mim

Você foi o melhor dos meus erros

A mais estranha história
Que alguém já escreveu
E é por essas e outras
Que a minha saudade faz lembrar
De tudo outra vez....

Você foi

A mentira sincera
Brincadeira mais séria que me aconteceu
Você foi
O caso mais antigo
O amor mais amigo que me apareceu

Das lembranças que eu trago na vida

Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez

Esqueci de tentar te esquecer

Resolvi te querer por querer
Decidi te lembrar quantas vezes eu tenha vontade
Sem nada perder

Você foi

Toda a felicidade
Você foi a maldade que só me fez bem
Você foi
O melhor dos meus planos
E o maior dos enganos que eu pude fazer

Das lembranças que eu trago na vida

Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim
Outra vez 

VERSO (clique na imagem para ampliá-la)

Série: Seleções Cartas de Amor, de Fred Jorge

(Carta 49)
Meu inesquecível amor!
            Ele arrumou na grande mala todos os seus agasalhos. Apanhou os seus capotes de pesada lã, suas meias grossas, suas luvas de couro e malha, seus suéteres coloridos, seus chapéus pesados... E, com tudo isso sobre os ombros partiu – partiu pela estrada, olhando para trás de vez em quando. Seus olhos cinzentos viam as flores que surgiam atrás, no caminho que ele palmilhava tristemente, e havia um brilho mau nesse olhar, um brilho de vingança; ele parecia dizer: “No próximo ano, eu estarei de volta! No próximo ano, eu estarei aqui com todos os meus rigores!”
            Indiferente às ameaças, ela chegou. Chegou e foi arrumando tudo a seu gosto. Começou pelos jardins: encheu-os de flores; abriu seus melhores frascos de perfume e embalsamou os ares; despertou os pássaros sonolentos e fez que cantassem. Tocou os corações entorpecidos e despertou dentro deles esses dois garotos travessos, que fazem a gente cantar: o meu amor e o sonho. E nem sequer deu um aceno a quem partia; olhou apenas com indiferença, e viu que o inverno caminhava com todos os seus rigores e agasalhos, perdendo-se no caminho do Nada...
            E setembro, sorrindo, fez moradia da terra. Enfeitou tudo, porque estava esperando a Primavera!...