segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Série: Seleções Cartas de Amor, de Fred Jorge

(Carta 49)
Meu inesquecível amor!
            Ele arrumou na grande mala todos os seus agasalhos. Apanhou os seus capotes de pesada lã, suas meias grossas, suas luvas de couro e malha, seus suéteres coloridos, seus chapéus pesados... E, com tudo isso sobre os ombros partiu – partiu pela estrada, olhando para trás de vez em quando. Seus olhos cinzentos viam as flores que surgiam atrás, no caminho que ele palmilhava tristemente, e havia um brilho mau nesse olhar, um brilho de vingança; ele parecia dizer: “No próximo ano, eu estarei de volta! No próximo ano, eu estarei aqui com todos os meus rigores!”
            Indiferente às ameaças, ela chegou. Chegou e foi arrumando tudo a seu gosto. Começou pelos jardins: encheu-os de flores; abriu seus melhores frascos de perfume e embalsamou os ares; despertou os pássaros sonolentos e fez que cantassem. Tocou os corações entorpecidos e despertou dentro deles esses dois garotos travessos, que fazem a gente cantar: o meu amor e o sonho. E nem sequer deu um aceno a quem partia; olhou apenas com indiferença, e viu que o inverno caminhava com todos os seus rigores e agasalhos, perdendo-se no caminho do Nada...
            E setembro, sorrindo, fez moradia da terra. Enfeitou tudo, porque estava esperando a Primavera!...

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