sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Seleções Cartas de Amor - Carta 71 - by Fred Jorge


            Meu inesquecível amor!
            Hoje, como se fosse uma terrível ameaça do céu, as nuvens negras começaram a pesar sobre a terra. Os trovões, com suas vozes roucas, pareciam brados de gigantes lutando a distância. E os relâmpagos iluminavam o bojo das nuvens, como um fragmento de fogo sagrado...
            Depois veio a chuva. Veio suavemente, como uma bênção, querida! E o céu abriu-se luminosamente, como seu sorriso. Veio o sol. A borrasca não passara de uma ameaça. E, depois da chuva, tudo voltou a brilhar; as folhas dos ramos pareciam enfeitadas de joias líquidas que cintilavam.
            No amor também há borrascas como essa, rápidas, cruéis, assustadoras. Eu me lembrei de você, do nosso tempo, de nossa felicidade: depois das brigas ocasionais vinha o sorriso bom, a alegria do perdão. Eu, feliz, procurava sempre um motivo de aproximação porque sabia que, mesmo zangada, você teria beijos para mim. Sabia que, mesmo com os olhos cheios de lágrimas, você queria sorrir.
            Mas houve um dia em que foi definitivo: a incompreensão caiu entre nós como um terrível muro. Separados, compreendi a fria realidade e segui sozinho com minha saudade. Essa borrasca ficou eterna em minha alma e, até hoje, os trovões da angústia anunciam assustadoramente a chuva perene dos meus olhos cansados, meu amor...
Fred Jorge

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