quarta-feira, 9 de março de 2011

SÉRIE: Seleções Cartas de Amor - de Fred Jorge (carta 64)

Querida!
           
            Desde que você partiu, a saudade tem estado a falar de você. Sim, querida: ela chega nas horas perdidas da noite e vem mansamente, como se fosse um pouco de luar na imensidão de uma noite de mistério. E a inquietação vem me falar de você, vem colocar o nervosismo em meu corpo agitado. E o meu torturado cérebro começa a divagar.
            Todos os meus antigos sonhos renascem, minhas melhores esperanças começam a ressurgir. Minhas próprias ilusões parecem renascer ao toque mágico dessa saudade imensa que me fala de você.
            E eu fico sonhando, meu amor. Caminho longamente pelo quarto deserto. A alcova fria parece refletir. E parece sentir também o peso da dor que faz curvar minha cabeça. Parece imersa em penumbra eterna. E faz que toda minha ansiedade aumente.
            Abro a janela e olho o jardim deserto. A brisa murmura segredos de amor às rosas tristes e pálidas. O chafariz inquieto e marulhante transforma em sussurros discretos um soluçar profundo.
            A amargura coloca a máscara fria da dor em minha face. A tristeza me fala ao coração e a sua voz me parece um lamento discreto, desses que a noite encerra.
            E compreendo que minha solidão é completa, meu amor. Muito mais completa, porque, quando a madrugada chega, a saudade se vai para longe de mim, querida...

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