segunda-feira, 23 de julho de 2018

Ah, aquele beijo... (baseado em uma história real) - por Douglas Diniz



Ah, aquele beijo...
            Era um domingo à tarde, um dia sem sol, sem frio, sem calor, apenas nuvens no céu. Um dia fresco, sem nada de especial. Início dos anos 90, onde sempre havia um salão de baile em cada cidade. E nesse dia não era diferente na pacata cidade de Rio Grande da Serra. Uma pequena cidade escondida em São Paulo, quase jogada ao fundo da mata atlântica que a cercava. E nesse dia, Diogo estava em frente ao salão de baile Clube 11, onde de vez em quando dava uma de DJ amador selecionando as músicas para a seleção de músicas românticas. Ainda não era a sua vez de subir ao palco e manusear as pick-ups. Jorge, o outro DJ, estava lá comandando a seleção de RAP, enquanto Diogo e alguns amigos estavam em frente à discoteca conversando amenidades. Deveria ser já quase 16 horas e nada fora do comum havia acontecido neste dia cinzento. Algumas pessoas entravam e outras saiam descontraídas da discoteca. Diogo, prestando atenção na conversa com os amigos, não percebeu quando um repentino vento passou por ali, trazendo um acontecimento que ele guardaria em seu coração por longos anos.
            Quando a brisa da tarde passou, veio junto três moças, Rosimeire, Elisa e outra garota que Diogo não sabia o nome. Cumprimentaram-se como de costume, um beijo no rosto seguido de perguntas banais. Elisa, sabendo que Diogo era um dos DJs da discoteca, interrogou-o acerca da música que rolava lá dentro, mas que se podia ouvir do lado de fora perfeitamente alto:
            - Só toca RAP nessa porcaria? – perguntava Elisa, sorrindo.
            - Se eu mandar trocar o RAP pelas músicas românticas, você dançaria comigo? – perguntou Diogo já segurando a mão de Elisa.
            - Sim – respondeu ela, sem soltar da mão de Diogo.
            Então, Diogo pediu que ela aguardasse um instante e correu para avisar o outro DJ que não iria fazer a seleção de músicas românticas, pois ia dançar com uma amiga, e deu orientações para que colocasse determinadas músicas na seleção. Depois, voltou correndo para junto de Elisa, que conversava animadamente com suas amigas e amigos e segurou sua mão, sussurrou em seu ouvido que já havia dito ao outro DJ que tocasse as músicas românticas. Elisa sorrindo acenou com a cabeça concordando.
            Poucos minutos depois ouviu-se as batidas fortes de uma melodia e Diogo sem pestanejar puxou Elisa para o centro do salão. E entre outros casais que se aninhavam nos braços de seus pares, Diego e Elisa começaram a dançar.
            Na primeira música, nada demais aconteceu entre os dois. Quem olhava para eles, via apenas mais um casal normal dançando. A primeira música se foi e a próxima começou a tocar antes que acabasse de tocar a anterior, e nem Diogo nem Elisa perceberam que ainda dançavam agarrados, bem devagarinho. Aos poucos as mãos de Diogo deslizaram suavemente pelas costas de Elisa e para sua surpresa, ela apertou suas costas com uma das mãos. Então, com a mão esquerda envolto na cintura dela, sua mão direita subiu pelas costas até encontrar seus cabelos castanhos e abundantes.  Sem mesmo premeditar quaisquer gestos, Diogo e Elisa retribuíam um ao outro os carinhos recebidos, e sem mesmo perceberem, sem mesmo cogitar a respeito, sem mesmo premeditar, seus rostos se roçaram um no outro e um beijo aconteceu. Os lábios se encaixaram perfeitamente, as mãos apertavam aqui e ali, puxavam devagarinho um para mais perto do outro. Para eles, só existiam eles ali na pista de dança. Ninguém mais. Nem música, nem nada. Apenas os dois. Foi um longo beijo. Tão longo que durou a seleção de lentas toda. Um beijo intenso, de tirar o fôlego, reprimido há muito tempo, nunca dado antes pelos dois em ninguém. Um beijo que parecia que levitava os dois a um mundo desconhecido. Que fazia tudo sumir em volta. Um beijo que demorou a se acabar. Mas, enfim a seleção de lenta se acabou, e com ela, o beijo de Diogo e Elisa. Ainda atordoados pelo beijo, Diogo segurou sua mão e a arrastou para um canto do salão. Notou, porém, que todos a sua volta observavam cada movimento que davam.
            Outra seleção de músicas começou, mas Diogo e Elisa ainda estavam absortos no que havia acontecido. Uma das amigas de Elisa veio correndo falar com ela e Diogo a ouviu dizer a amiga: “Que beijo!”. Depois que a amiga de Elisa se afastou, Diogo puxou-a para junto de si novamente para mais um beijo, e outro e mais outro...
            Depois de outros beijos tão intensos e tão íntimos, Elisa, com a cabeça recostada no peito de Diogo, disse-lhe:
            - Eu não quero ficar por ficar.
            - Eu também não. – Respondeu Diogo – A quero para mim. Quero algo sério com você.
            Elisa recostou-se novamente no peito de Diogo, feliz com a resposta.
            A hora passou lentamente e Elisa precisou se afastar do abraço aconchegante de Diogo, que, mesmo não querendo deixá-la ir, permitiu que Elisa se afastasse. Na entrada do clube, conversaram mais um pouco:
            - Te verei outra vez?
            - Sim – respondeu Elisa com um sorriso.
            - Quando?
            - Não sei ainda. Mas a gente se vê, pode ter certeza.
            Deu um beijo de despedida em Diogo e foi-se embora para sua casa, enquanto Diogo a observava até que ela sumisse numa curva distante.

            Aqui começa outra parte dessa história, que começou de um jeito tão lindo, tão doce e tão singelo. Um verdadeiro sonho de amor.
            O domingo avançou a passos preguiçosos para a noite. Diogo em sua casa, deitado em sua cama, não se esquecia de Elisa um segundo sequer. Ao lado de sua cama havia um aparelho de som Sony, que Diogo ligou, plugou o fone de ouvido, escolheu um LP com algumas das músicas com que ele e Elisa dançaram naquele mesmo dia, apagou a luz do quarto e deitou-se em sua cama. Embalado ao som que ouvia por meio dos fones, adormeceu e sonhou com aquele beijo inesquecível que dera em Elisa.
            Na manhã seguinte Diogo levantou-se e foi para seu trabalho. O dia foi angustioso. Era difícil concentrar-se nas tarefas diárias e pensar em Elisa. Ela ocupava todo seu pensamento. Ainda sentia em seus lábios o gosto daqueles beijos apaixonados. Ainda sentia em suas mãos o cheiro do perfume que exalava dos cabelos de Elisa. Foi de fato, um dia tedioso para se trabalhar e para piorar, o dia parecia que tinha preguiça de passar. Finalmente o fim do expediente chegou e Diogo não conseguia disfarçar o desejo de ir embora. Queria dar um jeito de se encontrar com Elisa. Sabia onde ela morava e daria um jeito de vê-la custasse o que custasse.
            Já em casa, Diogo resolveu escrever uma carta de amor para Elisa, e assim o fez. Escreveu uma carta onde expressava todo seu desejo, e também contou como ficara encantado com o que havia-lhes acontecido no dia anterior. Dizia na carta que a queria, que desejava-a como mulher, como esposa. Que colheria cada beijo que aquela boca pudesse transmitir. Disse também que dormira sorrindo pensando naqueles beijos estonteantes. Naquela troca de carinhos involuntários, que pareciam ter vida própria, impensados, não planejados anteriormente por nenhum dos dois. Disse o quanto estava ainda embriagado pelo perfume de seus cabelos abundantes e morenos e apaixonado por aquele sorriso largo e sincero. Após concluir a missiva, dobrou-a com carinho, enfiou no bolso da jaqueta e foi ver se conseguiria ao menos entregar a carta a Elisa.
            No meio do caminho Diogo deu de cara com Rosimeire, uma das amigas de Elisa que a acompanhara no baile no dia anterior. Cumprimentaram-se como de costume, perguntaram amenidades e de súbito Diogo perguntou de Elisa. Rosimeire respondeu que Elisa estava feliz, encantada com Diogo, que provavelmente rolaria um namoro, opinou Rosimeire. Os olhos de Diogo brilharam. Enfiou a mão no bolso e pegou a carta que havia escrito para Elisa e pediu para que fosse entregue para ela. Prontamente Rosimeire se dispôs a servir-se de emissária daquela iminente história de amor que desenrolava-se diante de seus olhos, afinal das contas, tanto Diogo como Elisa, eram ambos velhos amigos de Rosimeire. Mas ao mesmo tempo que pegou a carta endereçada à Elisa, Rosimeire, com outra mão, mostrou a Diogo uma outra carta, de Elisa para Diogo. Rosimeire informou então a Diogo que Elisa também passara a noite pensando nele e em tudo o que havia acontecido no dia anterior e, tal como Diogo, também escrevera uma carta de amor e pedira que Rosimeire desse um jeito de encontrar Diogo para entregar-lhe a carta. Diogo estremeceu de emoção. Prometeu que leria com carinho. Despediram-se e Diogo não conseguia disfarçar a ansiedade que percorria seu corpo. Foi o mais depressa possível para sua alcova para poder ler sozinho, sem olhos bisbilhoteiros, a carta daquela morena que havia arrebatado seu pobre coração.
            Já em seu quarto, longe de tudo e de todos, Diogo abriu a carta e começou a ler. Duas páginas, com letras bem legíveis e firmes, rememorava detalhadamente cada instante daquele domingo memorável. Elisa dizia na carta que havia acabado de tomar um banho delicioso, passado seu perfume preferido pelo seu corpo todo, vestido uma camisola linda, e deitado em sua cama para poder escrever-lhe a carta. Disse que era assim que gostaria de esperar seu maridinho quando estivesse casada. Disse ainda tudo o que ocorrera no baile. Dos abraços apertados, do beijo fatídico, do entorpecimento que cada beijo proporcionava, do esquecimento do mundo a volta dos dois, dos carinhos espontâneos que nasciam sem perceberem. Da intimidade inesperada, como se já fossem íntimos há muito tempo. Contou ainda que não queria ser iludida, que queria ser amada e retribuir o amor. Que tinha o desejo de poder repetir os beijos dados, que estava apaixonada. Diogo leu tudo, com carinho, sem pressa de terminar, saboreando cada palavra, cada expressão. Tudo o que Elisa disse ter sentido, Diogo também havia sentido e então ele percebeu que era recíproco em seus sentimentos e carinhos. Que valia a pena encarar esse amor que se avizinhava. Que Elisa era a mulher de seus sonhos. E decidido, Diogo estava disposto a encontrar Elisa de qualquer jeito. E esse encontro aconteceu no dia seguinte quando Elisa ia para a escola.
            Diogo a encontrou quando ela já se dirigia para a escola e infelizmente Elisa já estava em cima da hora e mal puderam conversar. Mas Diogo pediu-lhe um beijo, mesmo que fosse apressado e Elisa sorriu e beijo-o. O mundo a volta parou outra vez nesses poucos segundos que o beijo durou. Quando Diogo deu por si, Elisa já entrava apressada no colégio. E assim, mais um dia se foi. Diogo, porém, estava resoluto que no próximo encontro, pediria Elisa em namoro e assim, a teria para si.
            Esse outro encontro só foi possível dois ou três dias depois.
            Diogo encontrou Elisa no mesmo lugar onde ocorrera o último beijo dos dois. Elisa, porém, já não sorria mais. Seu belo rosto transfigurara-se em uma máscara de ódio, repugnância, tristeza e desilusão. Aquele sorriso de outrora foi substituído por uma boca séria, trêmula, contendo um choro, que nem ao menos sorria. Seus olhos tão belos, de um moreno encantador, estavam sérios, iludidos, úmidos pelas lágrimas derramadas em algum momento antes desse encontro. E suas palavras, outrora doces, delicadas, estavam crispadas de raiva fria e tristeza que Elisa não conseguia disfarçar. Com todos esses aspectos tenebrosos, Elisa atacou Diogo sem piedade. Não deixou nem que Diogo se pronunciasse, nem pensasse em se defender. E Diogo, perdido em si, sem saber o que havia acontecido, não esboçava nenhuma reação. Calado, apenas ouvia Elisa derramar toda a tristeza de seu coração ferido e magoado.
            O que se passara naquele momento perduraria por anos na vida de Diogo. Mais de duas décadas.  Parece haver na vida das pessoas forças que operam para que elas não sejam felizes. Destruindo sonhos, apagando sorrisos, separando casais enamorados, destruindo jardins de lindos sonhos de amor, borrando as cartas apaixonadas, despedaçando corações desiludidos. Diogo foi mudado completamente por esse acontecimento. Levaria esse acontecimento pelos fins de seus dias. Sabia que um dia tiraria isso a limpo. Custasse o que custasse, levasse o tempo que fosse.
            Diogo, depois que Elisa despejou-lhe toda a tristeza que havia em seu coração, foi para sua casa aturdido, perdido, sem rumo, sem saber o que fazer. As palavras de Elisa ecoavam em seus ouvidos ainda:
            - Você, senhor Diogo, me iludiu, sabia? Fiquei sabendo que você não quer nada sério com ninguém, que só gosta de abusar das menininhas e depois bye-bye. Sabe quem me disse essas coisas? Seu melhor amigo. Eis o tipo de amigo que você tem! Suma da minha vida! Estou muito magoada com você! Decepcionada com você!
            Essas palavras eram para Diogo como espadas afiadas penetrando-lhe a alma. Eram como dardos com venenos em suas pontas que lhe acertavam em cheio o coração. Seus olhos não conseguiam chorar uma lágrima sequer. Estava embrutecido com o que lhe acontecera. De uma hora para outra todo aquele sonho de amor virou uma mancha negra, como uma rosa murcha num canto qualquer da rua. Tudo havia se acabado. Não haveria mais beijos estonteantes, nem abraços apaixonados. Muito menos um romance. Nada. O fim de um lindo sonho de amor finalmente havia chegado.
            O que irritava Diogo era que seu amigo, seu melhor amigo tivesse ditos aquelas coisas. Pior, eram mentiras descaradas, que, infelizmente, conseguiram afastar Elisa para sempre de sua vida.
            Dias se passaram e Diogo encontrou-se com um amigo, Jorge. Esse Jorge era o outro DJ que ficou responsável pela seleção de lentas que Elisa e Diogo dançaram naquele domingo inesquecível. Conversaram:
            - Com vai, Diogo? E a Elisa? Já estão namorando?
            - Não. Não vai rolar nada. Acabou.
            - Como assim, acabou?
            - O Dennis falou algumas mentiras para ela e ela acreditou nele.
            - O que o Dennis disse para ela?
            - Disse que eu não queria nada sério com ninguém, que eu só gostava de me aproveitar das meninas e que iria fazer o mesmo com ela.
            - Tem certeza que foi o Dennis?
            - Sim, ela me falou. Na verdade ela me disse “o seu melhor amigo disse isso”. Oras, meu melhor amigo era o Dennis, pô.
            - Mas você tem certeza que foi o Dennis?
            - Tenho, pô!
            - Tem certeza mesmo que foi o Dennis? Você tem certeza?
            De repente, como um clique na cabeça de Diogo, uma dúvida lhe ocorreu no mesmo instante que o Jorge perguntou-lhe pela terceira vez se tinha certeza que havia sido o Dennis. Por que ele estava insistindo nessa pergunta? Qual o interesse do Jorge nessa questão? Diogo decidiu tirar isso a limpo. Foi rapidamente até a casa do Dennis, seu amigo que havia destruído seu romance com Elisa.
            Dennis recebeu Diogo com certa cautela, devido a expressão em seu rosto:
            - E aí, cara, sumiu? Tudo bem?
            - Você tem conversado com a Elisa por esses dias?
            - Não, a última vez que a vi foi naquele domingo que vocês dois deram aquele amasso. Por quê? 
            E Diogo contou-lhe tudo, como também a sua desconfiança depois da conversa com o Jorge.
            - Eu jamais faria isso com você, Diogo. Mesmo que essas coisas fossem verdades.
            - Eu sei. Comecei a desconfiar quando o Jorge perguntou insistentemente se havia sido você. E outra coisa, a Elisa não sabia que você era meu melhor amigo, ela sempre achou que fosse o Jorge. Decifrei esse enigma de traição, mas perdi a Elisa para sempre.
            Nesse tempo, mesmo com cerca de 20 anos, Diogo já era decidido em suas decisões. Além do mais, não gostava de ser um estorvo para quem quer que fosse. Ele não insistia em nada que não havia dado certo.
            Diogo foi para sua casa, e, como da outra vez, escolheu um LP, colocou em seu aparelho de som Sony e deitou-se na penumbra do quarto. A música contava a história de um amor que havia se acabado de uma hora para outra. A única coisa que havia ficado, segundo o autor da letra, era o gosto de um beijo que ele nunca esqueceu.
            E assim aquela bela história de amor, que havia nascido nos corações de Elisa e Diogo, chegou ao fim. Movido por inveja talvez, ou por maldade mesmo, Jorge colocou fim numa história de amor que tinha tudo para brotar como uma linda flor. Na vida há pessoas maldosas cuja diversão é praticar mal às pessoas. Elas maquinam mal enquanto se deitam em suas camas durante a noite ou mesmo quando estão em seus afazeres diários. Não importa, seu desejo é ver as pessoas sofrerem, amores destruídos, enfim. A maldade tem que ser feita, não importa contra quem. São atitudes de pessoas infelizes, incapazes de se alegrarem com a alegria de outrem. Se ela não pode ser feliz, então, ela fará qualquer coisa para que as demais pessoas em seu círculo de amizade, também não sejam.
            Contudo, Diogo nunca esqueceu essa história, e nem o desejo de colocar essa história a limpo saiu de seu coração. Vez ou outra Diogo via Elisa por aí, mas não passava de “oi” de ambos os lados. Quase 25 anos depois, andando pela cidade de Ribeirão Pires, Diogo viu, sem querer, Elisa junto a uma menina, que devia ser sua filha, ao lado da Vila do Doce. Sem pestanejar, correu até ela, tocou-lhe o ombro esquerdo e disse:
            - Oi Elisa!
            - Oi, Diogo! Há quanto tempo!
          - Eu preciso lhe dizer uma coisa. Há muito tempo tento dizer-lhe isso. Foi o Jorge que disse aquilo tudo para você, não foi o Dennis. O Jorge mentiu para você.
            Elisa, sem jeito, sem saber o que fazer ou falar, apenas sorria tristonha.
            - Faz tanto tempo!
            - Sim, quase 25 anos! Era só isso que eu tinha para falar. E quem é essa menina linda?
            - É minha filha caçula.
            - Ela é linda. E você continua linda.
            - Obrigada! Você tem whats? Para a gente manter contato.
            - Claro.
           
            Então, depois de quase 25 anos depois daquele domingo fatídico, Diogo e Elisa se encontraram. Infelizmente essa história não terá mais prosseguimento. Elisa agora está casada, tem dois filhos maravilhosos. Diogo, foi casado por 14 anos, também tem dois filhos, mas há 6 anos está divorciado e sozinho. Dessa história de amor restara apenas recordações e mais nada.
            Sozinho em seu quarto, Diogo relembra de vez em quando aquela antiga música, que, durante mais de 20 anos contava uma história que ele também havia vivido. A letra dessa canção diz assim:
Ainda guardo na boca o gosto daquele beijo
E na lembrança, uma história
Cheia de amor e desejo
Só um aceno e depois
O olhar perdido na estrada
E só restou de nós dois
Recordações e mais nada.
Como é possível esquecer
O nosso encontro primeiro
Você chegou simplesmente
E eu perguntei quase nada
E num momento nós dois
Nos envolvemos demais
Mas pouco tempo depois
Aquele adeus, nada mais.
E o nosso amor se perdeu
Se consumiu por inteiro
Como um cigarro esquecido
Na borda de algum cinzeiro
De tudo aquilo ficou
Essa saudade guardada
E de nós dois só restou
Recordações e mais nada.
Ainda guardo na boca
O gosto daquele beijo...

(Música de Roberto Carlos e Fred Jorge)

Escrito por Douglas Diniz, história concluída em 24 de julho de 2018. Os nomes dos protagonistas da história foram trocados por motivos óbvios.

Máquina do Tempo - by Douglas Diniz



            Sim, existe uma máquina do tempo. Na verdade, há em dois modelos. Num dos modelos, a gente consegue apenas ver pessoas que já se foram, ou mesmo nós mesmos, desde a mais tenra idade, recém-nascidos. É possível rever momentos tristes ou alegres, acontecimentos que não voltam mais. Podemos ver sorrisos ou lágrimas de pessoas que amávamos e que já se foram e que não voltarão jamais. Com o aperfeiçoamento e avanço da tecnologia, podemos ver tudo isso que descrevi acima com mais nitidez e perfeição. Com a resolução alta é possível até ver os poros da pele de qualquer pessoa. Refiro-me à máquina de tirar fotos. Ela é uma máquina do tempo e cabe na palma de nossa mão! Na verdade uma das máquinas do tempo. A outra é a filmadora. Ela faz tudo o que a máquina fotográfica faz, com um detalhe diferente: ela faz tudo em movimento, com áudio para acompanhar. Nessa segunda máquina do tempo podemos ouvir a voz de alguém que amávamos, de alguém que já partiu, de nós mesmos de quando éramos crianças. Ouvimos outra vez as gargalhadas das crianças de outrora, as vozes de nossos avós, do cachorro que tínhamos quando criança ou do gato que fazia bagunça na sala de casa. Com essas duas máquinas do tempo, podemos registrar todas as etapas de crescimentos de nossos filhos, e depois, num tempo distante, podemos recordar de como eles eram fofinhos e que agora estão maiores que nós. Com essas máquinas do tempo, podemos viajar ao passado distante, relembrar antigos sonhos, rever velhos amores ou velhas amizades. Podemos recordar momentos tristes ou alegres, de risos ou de lágrimas, de sonhos ou ilusões... Que importa? O importante é que emoções foram registradas com o único intuito de que no futuro sentaríamos em nosso velho sofá e ficaríamos absortos revendo imagens que só não se perderam no tempo que a tudo apaga impiedosamente, porque tínhamos em mãos essas máquinas do tempo.