As feridas contidas em meu coração já se cicatrizaram, já
não sangram como outrora. Isso é um bom sinal. Mas meus olhos ainda estão baços
pelas constantes lágrimas que se derramaram em longos prantos. A alma ainda
suspira, quase que imperceptivelmente, a tristeza que aos poucos se esvai.
Tenho ainda o olhar triste, perdido em algum ponto
qualquer do horizonte distante. Já não há mais esperanças de um novo amor. Vejo
jovens casais de namorados sorrindo, beijando-se, abraçando-se... Nada disso me
ilude mais. Pobres casais! Mal sabem que todo esse romantismo, que toda essa
demonstração de amor e afeto tende a ter um fim! Um fim que costuma ser
doloroso, angustiante, sombrio...
Em alguns momentos meus olhos cansados divisam um belo
rosto, um olhar terno, um sorriso delicado em minha direção. Seria o prenúncio
de um novo amor que se avizinha? Quem sabe? Eu até poderia arriscar, mas, o
medo me detém. Apodera-se de mim. Não consigo mais sustentar um olhar que me
questiona, que me espreita... Não consigo mais desejar com o mesmo ardor alguma
boca desejosa em me beijar. Mas será que deseja mesmo? Ou é apenas minha
percepção que não consegue mais captar o desejo insano de um possível beijo?
A verdade é que já até esqueci o que é ficar perdido e
imerso em algum olhar... Minha boca já não sabe o que é beijar outra boca num
beijo capaz de fazer a alma flutuar em algum universo desconhecido.
Minha mente, então, divaga por antigos sonhos, antigos
amores... Vez ou outra me recordo de algum beijo, de algum perfume, de algum
olhar embevecido de amor... Em minhas divagações é-me possível sentir o corpo
de alguém em minhas mãos, o toque aveludado de uma boca, o respirar alternado
de alguém em meus ouvidos...
Mas assim como vêm, essas divagações se vão, como uma
nuvem que é desmanchada por algum vento repentino...
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