quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O TEU RISO - de Pablo Neruda


Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera , amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Quero Ver seu Sorrir !

Nem que seja por um segundo,
Para ter seu sorriso,
Posso não te dar o mundo,
Nem o chão em que piso,
Mas num leve momento,
Quero ver seu sorrir,
Para o céu se abrir!
Quero ouvir seu cantar
Para poder te contemplar.
Pois a vida passa num instante
E o aqui é melhor que antes,
Que teu amanhecer seja sorrindo
Pois a primavera vem vindo!

(Carlos Eduardo Velozo)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sem título

Quando tudo parece caminhar errado,
seja você o primeiro passo certo.

Se tudo parece escuro, se nada puder ser visto,
acenda a primeira luz.

Traga para a treva, você primeiro,
a pequena lâmpada.

Quando todos estiverem chorando,
tente você o primeiro sorriso,
Não na forma de lábios ardentes,
Mas na de um coração que compreenda,
de braços que confortem.

Se a vida inteira for um imenso não,
parta você na busca do primeiro sim,
Ao qual tudo de positivo deverá seguir se

Se o vento sopra frio,
que seu calor humano seja a primeira proteção

Não atire a primeira pedra em quem erra,
de acusadores o mundo está cheio.

Nem, por outro lado, aplauda o erro.

Ofereça sua mão primeiro para levantar quem caiu,
dê sua atenção primeiro para mostrar o caminho de volta,
compreendendo que o perdão regenera,
que é a compreensão edificada, que o possibilita,
e que o entendimento reconstrói.

Toda escada tem um degrau,
para baixo ou para o alto.

Toda estrada tem um primeiro passo,
para frente ou para trás.
Toda vida tem um primeiro gosto de existência ou de morte.

Atire pois, você, com ternura e vontade de entender,
quando tudo for pedra, a primeira e decisiva semente da flor!
(desconheço o autor desta poesia)

Coisas de amigo

Plácidos & Carreras

Eis uma história que nem todos conhecem, mas que nos leva a pensar se precisamos mesmo conviver com a rivalidade.
         Refere-se a dois dos três tenores que encantaram o mundo, cantando juntos. Mesmo quem nunca visitou a Espanha, conhece a rivalidade existente entre catalães e madrilenos, dado que os catalães lutam pela autonomia, em uma Espanha controlada por Madri. Pois bem, Plácido Domingo é madrileno. José Carreras é catalão. Devido às questões políticas, em 1984, Carreras e Domingo tornaram-se inimigos. Sempre muito solicitados em todo o mundo, ambos faziam questão de exigir nos seus contratos, que só atuariam em determinado espetáculo se o adversário não fosse convidado.
         Em 1987 apareceu a Carreras um inimigo muito mais implacável que o seu rival Plácido Domingo: foi surpreendido por um diagnóstico terrível, leucemia. A sua luta contra o câncer foi muito difícil, tendo-se submetido a diversos tratamentos, a um transplante de medula óssea, além de uma mudança de sangue, que o obrigava a viajar mensalmente até aos Estados Unidos.
         Nestas circunstâncias, não podia trabalhar e apesar de ser dono de uma fortuna razoável, os elevadíssimos custos das viagens e dos tratamentos, dilapidaram suas finanças. Quando não tinha mais condições financeiras, teve conhecimento da existência de uma fundação em Madri, cuja finalidade era apoiar o tratamento de doentes com leucemia. Graças ao apoio da fundação “Formosa”, Carreras venceu a doença e voltou a cantar.
         Voltou a receber os altos cachês que merecia, e resolveu associar-se a fundação.
         Foi ao ler seus estatutos, que descobriu que o seu fundador, maior colaborador e presidente da fundação, era Plácido Domingo. Depressa soube que Domingo tinha criado a fundação para ajudá-lo e que se tinha mantido no anonimato para que ele não se sentisse humilhado ao aceitar o auxílio de seu “inimigo”. Mas... o mais comovente foi o encontro de ambos. Surpreendendo Plácido Domingo em um de seus concertos em Madri, Carreras interrompeu a atuação deste, subindo ao palco e humildemente, ajoelhou-se aos seus pés, pediu-lhe desculpas e agradeceu-lhe publicamente. Plácido ajudou-o a levantar-se e com um forte abraço, selaram o início de uma grande e bela amizade.
         Mais tarde uma jornalista perguntou a Plácido Domingo porque criara a fundação “Formosa”, em um gesto que além de ajudar um “inimigo”, ajudava também o único artista que poderia fazer-lhe concorrência. A sua resposta foi curta e definitiva:
         - Porque uma voz como aquela não poderia perder-se.
(Essa é uma história real da nobreza humana e deveria nos servir de exemplo)               
Autor desconhecido.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

CLIP - SENTADO À BEIRA DO CAMINHO, DE ERASMO CARLOS

SÉRIE: Seleções Carta de Amor - de Fred Jorge (Carta 58)

Meu inesquecível amor!
            Sacudindo-se todo para afastar o torpor do inverno terrível, setembro apareceu na estrada do tempo... Seu primeiro dia amanheceu maravilhoso, doirado e doirando também as flores e ramos! Cálido e aquecendo também corações e desenhando sorrisos.
            Eu também me senti feliz. Feliz porque, para mim, setembro é mais do que simples mês: é a volta da primavera, é a volta de tudo que é belo!... E então eu poderei ouvir novamente, pelas estradas da vida, os madrigais serenos. Eu poderei ouvir a voz dos ninhos, aquecidos pelos últimos raios de sol do crepúsculo.
            Sim, querida! Poderei ouvir tudo isso, como um alegre prenúncio da primavera que virá em setembro. Poderei ouvir tudo isso como um cântico de amor, que a própria natureza entoa aos céus enfeitados de azul. Poderei ouvir tudo isso e sorrir tristemente, porque a tristeza estará sempre comigo – sempre comigo, porque não ouvirei a sua voz junto de mim, meu amor...
            Virá a primavera, e eu estarei sozinho. Olharei para todos os sorrisos e sentirei inveja. Ouvirei estalos de beijos e sentirei tristeza. E assim ficarei, até que você me traga de volta a primavera do amor, querida...

SÉRIE: Seleções Carta de Amor - de Fred Jorge (Carta 57)

Meu grande amor!
            Um dia, você voltará arrependida para mim... E há de trazer o coração purificado pela dor. Há de trazer os lábios, antes pecaminosos e impuros, limpos e cheios de tristeza, porque há de recordar cada momento feliz, cada momento de ventura e alegria.
            Nesse dia, talvez seus olhos esteja luminosos, com o brilho antigo das primaveras que foram nossas. Nesse dia, talvez seus olhos estejam mais belos que antes, porque trarão o calor da chama rediviva de um amor, que renascerá pelo encanto da saudade!...
            E você voltará com o aspecto feliz de quem retorna de uma longa viagem, rejuvenescida, contente e cantarolando até...
            Mas, quando me vir, há de chorar, querida: você não me reconhecerá, porque verá, em meus olhos sem brilhos, o cansaço. Minhas mãos estarão trêmulas e meus lábios só poderão murmurar preces de amor...
            E você verá, ruína humana, o que a saudade deixou como frangalho, como recordação de um passado feliz, que agora nada mais é e nada mais será, enquanto houver amor dentro de mim...

SÉRIE: Seleções Carta de Amor - de Fred Jorge (Carta 56)


Meu grande amor!
            Antes que o crepúsculo termine nos braços da noite, quero que você fite meus olhos com seus cheios de luz e calor. Antes que venham as estrelas, quero me embriagar na luz do seu olhar tão belo, tão magnífico, tão encantador. Antes que veja o luar, quero ver a palidez de sua face, o encanto do seu semblante, a maravilha sedosa de seus braços – quero que meus lábios sintam a maciez de veludo de seus lábios, quero que meus olhos guardem para sempre, enquanto houver um raio de sol, a figura linda que agora estão vendo!...
            E tudo por que, meu amor? Porque, quando a noite vier, você partirá; quando o crepúsculo terminar, você estará distante de mim. Quando a aurora chegar, você não mais pertencerá ao meu amor. E eu... eu ficarei sem nada! Meus braços vazios estão apenas buscando um pouco de você, e meus olhos cheios de luz de estrelas não verão seus olhos!...
            Com indiferença, verei o luar e toda a beleza da noite parecerá não existir, porque eu não terei você ao meu lado, meu amor!... Meu grande amor!...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A Carolina - de Machado de Assis

Querida! Ao pé do leito derradeiro,
em que descansas desta longa vida,
aqui venho e virei, pobre querida,
trazer-te o coração de companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
que, a despeito de toda a humana lida,
fez a nossa existência apetecida
e num recanto pôs um mundo inteiro...
Trago-te flores - restos arrancados
da terra que nos viu passar unidos
e ora mortos nos deixa e separados;
que eu, se tenho, nos olhos mal feridos,
pensamentos de vida formulados,
são pensamentos idos e vividos.

Oscar Wilde

“Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
(...) Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero o meu avesso.(...) Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.(...) Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos
Quero-os metade infância e outra metade velhice.
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto: e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo, loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que “normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril."