sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Seleções Cartas de Amor - Carta 71 - by Fred Jorge


            Meu inesquecível amor!
            Hoje, como se fosse uma terrível ameaça do céu, as nuvens negras começaram a pesar sobre a terra. Os trovões, com suas vozes roucas, pareciam brados de gigantes lutando a distância. E os relâmpagos iluminavam o bojo das nuvens, como um fragmento de fogo sagrado...
            Depois veio a chuva. Veio suavemente, como uma bênção, querida! E o céu abriu-se luminosamente, como seu sorriso. Veio o sol. A borrasca não passara de uma ameaça. E, depois da chuva, tudo voltou a brilhar; as folhas dos ramos pareciam enfeitadas de joias líquidas que cintilavam.
            No amor também há borrascas como essa, rápidas, cruéis, assustadoras. Eu me lembrei de você, do nosso tempo, de nossa felicidade: depois das brigas ocasionais vinha o sorriso bom, a alegria do perdão. Eu, feliz, procurava sempre um motivo de aproximação porque sabia que, mesmo zangada, você teria beijos para mim. Sabia que, mesmo com os olhos cheios de lágrimas, você queria sorrir.
            Mas houve um dia em que foi definitivo: a incompreensão caiu entre nós como um terrível muro. Separados, compreendi a fria realidade e segui sozinho com minha saudade. Essa borrasca ficou eterna em minha alma e, até hoje, os trovões da angústia anunciam assustadoramente a chuva perene dos meus olhos cansados, meu amor...
Fred Jorge

Para viver a dois... - by Fernando Pessoa


terça-feira, 11 de setembro de 2018

Pensando em você - by Patrícia Gouveia


Os dias passam e vão como o vento... E nada volta... Nada mais será como foi aquele dia. O dia que desejei não ter lhe conhecido, desejei não saber seu nome ou ver a cor dos seus olhos, nem sentir o seu sabor. Agora o que me restam senão as brumas da solidão, o vazio. O desejo ardente, uma boca sem seu beijo, um corpo sem suas mãos, um coração cheio e uma mente insana. E passam-se os dias sem sua presença, sem o cheiro da sua pele, sem o calor do seu corpo dos seus abraços. Só queria voltar um segundo que seja, para um último beijo, um último olhar, um último toque, que seja. Não vou suportar, tanto tempo... Mata-me, as lembranças de cada segundo ao seu lado, nossos corpos enroscados, entrelaçados e suados, o cheiro do nosso desejo, a doçura dos seus beijos, as carícias das suas mãos. Mata-me saber que não mais poderei lhe ter, nem mais um segundo se quer, nem mais um instante. Restam-me as lembranças, que se vão aos poucos. Embora as queira guardar em minha mente, como pedras preciosas, mas não conseguirei fazê-las. Preciso de pele, de cheiro, do seu beijo. Preciso lhe sentir dentro de mim, como brasas acessas prestes a incendiar uma alma, preciso dos seus olhos nos meus, da sua voz nos meus ouvidos falando baixinho, sussurrando seu desejo, nosso ardor. Faria tudo por mais um beijo. Um único beijo. Nada mais.
Estou em cinzas, que se vão aos poucos... Destruindo cada molécula do meu ser. Pois não poderei mais lhe ter. E isso amor meu, ainda que "para sempre" seja infinito, não me arrependo do meu amor em nenhum quesito. Não me arrependo! Ter me dado a você, me entregado completamente sem restrições, mesmo que por um dia, um único dia de amor. Não me arrependo! Agora vou em cinzas para sempre. Não quero mais existir sem você. Deixe-me partir. Ainda que minha vontade sempre foi a de ficar. Mas a vida, essa vida, brinca conosco como se fôssemos peças de um xadrez. Nos une e nos separa. Separa para sempre, separa infinitamente. Nos arranca de nós mesmos, do nosso mundo. Agora vou embora... Mais uma vez eu digo, pra ver se ainda consigo um instante, um breve momento ainda da sua presença, mas que dói e sangra. Queria não ter lhe conhecido, juro! Nunca ter visto sua face... Mas agora que lhe vi, agora que lhe senti, agora que lhe beijei...



by Patrícia Gouveia