terça-feira, 25 de julho de 2017

Seleções Cartas de Amor - Fred Jorge - Carta 115

Meu inesquecível amor!
            Esta noite tive medo, querida! Tive medo do silêncio que habitou minha casa vazia... Tive medo da solidão que envolveu minha alma... Tudo era silêncio... Tudo era tristeza dentro da noite úmida, cheia de vozes misteriosas, rica de sombras e pobre de sonhos... Meus olhos procuravam seu vulto... Meus olhos cansados de tanto procurar você nas sombras, pareciam ter medo de chorar...
            Depois... depois do silêncio, ouvi uma voz que me falava. Era a voz da saudade... Essa voz que nunca podemos sufocar dentro de nós mesmos. Essa voz que não se cala, e que a todo momento vai repetindo num ritmo cheio de tédio, a velha história dos minutos perdidos... E eu ouvia... Ouvia a voz da saudade... Ouvia o silêncio que parecia atordoar-me. Ouvia a angustiosa e triste história de sofrimentos, de dores... de falsas alegrias e real tristeza... E compreendi que havia em tudo a sua falta... Eu não tinha você... E perdendo-a, perdi tudo... A alegria... a felicidade... meus melhores sonhos, minha própria razão de ser... Perdendo-a, perdi toda vontade de sorrir... E a saudade, só a saudade ficou comigo. Ficou morando em meu coração... falando... falando sempre do nosso amor desfeito, querida...         

            Fred Jorge

Seleções Cartas de Amor - Fred Jorge - Carta 114

Meu inesquecível amor!
            A primavera voltou... Ela é eternamente jovem... Ela renova-se cada vez mais... Em todos os anos parece mostrar um novo aspecto de sua beleza imortal... Está colorindo os jardins, perfumando os ares... E a saudade... esta saudade que eu sinto, é bem como a primavera. É eternamente jovem... É eternamente linda, porque é toda feita de fragmentos de sonhos que renascem...
            O que é a vida? O conjunto de ideias ou sonhos que formam o futuro? Não. O futuro é nada mais que uma névoa imensa. O futuro é um esboço mal delineado. É o medo em mistura com o pouco de esperança que ainda nos resta. Também não é o presente, com a brevidade de minutos que se vão rapidamente... e nunca mais, nunca mais voltam...
            A vida é o passado. Esse passado que não morre, porque enquanto houver saudade, ele renasce como flor de primavera... O passado que e feito de memórias... de beijos perdidos, de abraços cálidos, de murmúrios e preces de amor. Toda uma vida... Todo um passado. Todo um sonho vivido, toda uma ilusão desfeita...
            Hoje a primavera voltou... e o passado aqui está comigo, presente pela mão doce e suave da saudade. Essa saudade que me alimenta a alma como fogo delicioso e imortal, querida...
           

            Fred Jorge

No colo e depois no solo


sábado, 8 de julho de 2017

Amor é fogo que arde sem se ver - Luis de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

                           Luís de Camões