quinta-feira, 11 de novembro de 2010

AS POMBAS - by RAIMUNDO CORREIA

Vai-se a primeira pomba despertada ...
Vai-se outra mais ... mais outra ... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada ... 

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais; 

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais... 

Fonte: www.mundocultural.com.br

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

SÉRIE: Seleções Carta de Amor - de Fred Jorge (Carta 53)


 Meu inesquecível amor!

            Como um floco de nuvem, perdido num céu imensamente azul, imensamente deserto, sem outras cores que não a monotonia azulada, meu pensamento também está solto sobre um panorama azul de saudade.
            E vai ao sabor de minha fantasia, apanhando, através da distância e do tempo que passa impiedosamente para nunca mais voltar, as lembranças suaves.
            Vai acumulando fragmentos de uma vida dispersa, envolta em tédio, amortalhada em tristezas. Vai resvalando de recordação em recordação, como um pouco de fantasia. E subitamente esse meu pensamento inquieto pára: seu devaneio borboleteante parece deter-se ante uma lembrança que vale por todas.
            É você que toma forma dentro do meu celebro febril. Você, que num dia qualquer, sob um céu de abril, entrou em minha vida. Você, que, num gesto amplo, me abriu as portas do paraíso, mostrando a beleza do amor! Você, que depois partiu e me deixou solitário e triste como um pobre sonhador, trazendo na alma sonhos mortos e o coração cheio de um panorama de saudades, que revive em cada hora morta, meu amor...     

SÉRIE: Seleções Carta de Amor - de Fred Jorge (Carta 52)



Meu inesquecível amor!

            Um dia, você despertará do longo pesadelo que está vivendo. Um dia, quando a vida já for um pesado fardo sobre os seus ombros, você vai sonhar com o passado. Vai recordar a primavera que floriu dentro de nossas almas; vai recordar os momentos de aventura que singelamente lhe ofereci - e vai compreender que, em mim, você sempre encontrou um tesouro infinito de bondade; e vai compreender amargamente que a vida só vale pelo seu conteúdo em amor. E não pelos bens materiais que oferece...
            Nesse dia, meu amor, talvez seus olhos estejam baços, sem brilho, sem encanto.  Nesse dia, minhas mãos trêmulas estarão folheando o livro do passado, e também eu chorarei de saudade...
            E quando uma lágrima triste rolar de seus olhos; pela sua face sulcada de rugas, você lamentará o passado. E há de pensar tristemente:
            - O amor – isso foi tudo em minha vida... Agora, nada mais resta!...
            E começará a chorar!...